Helena Schiavoni Sylvestre
A destruição da natureza, a proteção a animais em extinção e aparatos tecnológicos menos poluentes são temas que ocupam a cobertura jornalística dada à temática do meio ambiente. A atenção da mídia à área é positiva, mas muitas vezes os assuntos são tratados de maneira estereotipada, sem inserir a sociedade civil no seu devido papel de contribuinte para o desenvolvimento sustentável. O meio ambiente e a sustentabilidade devem ter uma abordagem pela mídia de maneira que o tema esteja interligado a outras editorias do jornal.
Na cobertura do impasse em torno da construção da usina hidrelétrica Belo Monte, na Bacia do Rio Xingu, em matérias de agências noticiosas publicadas em Folha.com percebe-se uma posição contrária ao empreendimento. Em duas matérias de momentos diferentes, intituladas Indígenas pedem suspensão de hidrelétrica à CIDH (12 de novembro de 2010) e MPF alerta para danos com liberação de obras de Belo Monte (4 de março de 2011), estão argumentos sobre a possível degradação ambiental que a construção da usina pode acarretar e a destruição de comunidades indígenas instaladas próximas à área do projeto.
Segundo a primeira matéria, “os denunciantes argumentam ameaças graves e irreversíveis aos direitos de, pelo menos, quatro comunidades indígenas pela construção da que seria a terceira maior represa do mundo”. O texto tem um caráter predominantemente de denúncia. Mas seria conveniente contextualizar os protestos indígenas, informar o histórico das tribos e detalhar quais são os problemas que a usina pode trazer. “As organizações denunciam que o governo brasileiro não estudou adequadamente o impacto que teria nas comunidades do Rio Xingu”, segundo o texto. Seria necessário detalhar quais seriam exatamente estes impactos.
A segundo matéria coloca que a “liberação do canteiro pode provocar problemas como o colapso da infraestrutura urbana na região e danos irreversíveis ao ambiente e à população que vive próxima ao Xingu”, e que “para o MPF-PA, a licença que permite a instalação do canteiro de Belo Monte é ilegal porque não está prevista no ordenamento jurídico brasileiro”. A matéria deveria especificar quais os possíveis danos que a construção da usina pode gerar à infraestrutura urbana. Conviria também apresentar a fundo a legislação que torna a usina ilegal de acordo com o MPF-PA.
Analisando-se as matérias, percebe-se também que elas não vinculam o fato ao cotidiano das pessoas, indicando de que maneira seu padrão de vida poderia ser afetado, quais as conseqüências econômicas, sociais etc.
Enquanto o tema estiver desvinculado das outras áreas do jornalismo, dificilmente os indivíduos se identificarão com as causas ambientais e, portanto, não terão incentivos suficientes para que cada um contribua à sua maneira com o desenvolvimento sustentável.
A cobertura fragmentada das questões ambientais traz uma visão superficial, equivocada e desinteressante do tema. O jornalismo ambiental deve ser exercido nas editorias de política, economia e saúde, de forma que se consiga tornar o desenvolvimento sustentável assunto de maior pertinência.