Sobre política e bolinhas de papel


Maria Carolina Vieira


O que dizer quando o assunto principal de uma campanha política é discutir se o que atingiu a cabeça de um dos candidatos à Presidência da República foi uma bola de papel ou uma fita adesiva?

O episódio ocorreu no dia 20 de outubro durante uma caminhada de José Serra pelo Rio de Janeiro. A campanha do tucano foi perturbada por um tumulto entre cabos eleitorais do candidato e da petista Dilma Roussef. Em vídeo divulgado em vários meios de comunicação, em determinado momento, uma bolinha de papel atinge a cabeça de Serra, que leva as mãos ao local atingido. Ele continua a caminhada normalmente, até que recebe um telefonema. Depois disso, ele voltaria a sentir dores na cabeça, entra numa ambulância e vai a um hospital.

Segundo uma versão atribuída ao PT, Serra teria fingido a dor para afetar a reputação dos cabos eleitorais da adversária, taxados como agressivos. Já na versão atribuída ao PSDB, em tal hora não gravada da caminhada, Serra teria sido, de fato, atingido por um objeto mais pesado.

Nos dias seguintes, grandes veículos de mídia e considerável tempo do horário eleitoral gratuito dedicaram-se à polemica, cada um defendendo seu lado.

A grande questão – e problema – é, a pouco mais de uma semana do segundo turno das eleições presidenciais, ter como pauta midiática principal discutir se o que foi atirado seria uma bolinha de papel ou qualquer outra coisa só demonstra como a cobertura eleitoral foi muito fraca. Ao invés de tratar de questões relevantes para que o eleitor possa construir sua opinião, como os projetos de governo, as respostas às denúncias de corrupção etc, a mídia prefere noticiar polêmicas como essa, ou ainda outras, como a questão do aborto. Temas que não deveriam ser considerados importantes, muito menos decisivos, na hora de votar.


Deixe um comentário