Novos eleitores precisam de atenção e responsabilidade da mídia


Lucas Liboni Gandia


Eventualmente, o jovem brasileiro ainda não é atendido de maneira adequada pela mídia nacional. Pelo menos por enquanto. Durante a recente campanha eleitoral, um dos maiores suplementos destinados ao público adolescente, o Folhateen, dedicou pouquíssimo espaço a essa temática. Enquanto jornal de maior tiragem no Estado de São Paulo, caberia à Folha de S. Paulo proporcionar aos seus jovens leitores uma abordagem mais ampla e aprofundada das campanhas eleitorais. A juventude brasileira, definitivamente, necessita de mais atenção.

No segundo semestre de 2010, a sucessão presidencial só foi abordada em cinco edições da publicação semanal. Em setembro, mês que antecedeu as eleições, tal temática só apareceu no conteúdo do suplemento duas vezes. O problema mais grave ocorreu, sobretudo, no dia seguinte às eleições. O Folhateen de 4 de outubro deveria ter apresentado, pelo menos, um panorama geral das eleições para o público jovem. Os desdobramentos das eleições e suas futuras implicações também deveriam fazer parte da leitura desse segmento da população, principalmente no dia em que essa foi a principal pauta.

A primeira matéria publicada em setembro (20/09/2010) sobre as eleições abordou o “voto consciente”. Foram relatados dúvidas e questionamentos de 200 futuros eleitores e estudantes de um colégio particular de São Paulo, registrados durante palestra do juiz eleitoral Aloísio Sérgio Rezende Silveira. Apesar da maior parte da matéria se limitar a apresentar depoimentos dos adolescentes, certo espaço foi dedicado ao esclarecimento da Lei da Ficha Limpa e de suas aplicações no processo eleitoral.

A segunda matéria de setembro (27/09/2010), por sua vez, abre espaço para as discussões do “Fenômeno Tiririca” e dos votos proporcionais. Apesar da superficialidade, o texto explora uma temática de fundamental abordagem na época das eleições. Expor as características do processo eleitoral brasileiro aos jovens leitores é importante para que os novos eleitores tenham consciência dos desdobramentos de suas decisões.

Para realizar uma cobertura mais ampla das eleições, caberia ao Folhateen, inclusive, entrevistar os presidenciáveis com intenções de voto mais expressivas. Assim, seria possível detectar seus posicionamentos em relação aos jovens e expor quais expor quais são as suas propostas para esse importante segmento da população. O suplemento da Folha de S. Paulo possui significativo público de leitores e tradição no jornalismo jovem, de modo que se espera dele uma abordagem mais aprofundada e completa sobre o tema. O Folhateen poderia, por exemplo, apresentar os perfis dos candidatos, as suas respectivas vidas públicas, quais os feitos mais significativos em suas carreiras políticas e até mesmo breves relatos das biografias dos presidenciáveis. Somente assim é possível fornecer aos adolescentes subsídios para que seja feita uma escolha consciente nas eleições.

Só há um caminho para que os jovens se tornem mais participativos e interessados em assuntos como a política: proporcionar a este público informações sobre tais temáticas. Para isso, o jornalismo brasileiro necessita conceber o jovem como um indivíduo em formação que, apesar das dúvidas e inseguranças típicas da idade, possui capacidade de assimilar conteúdos de interesse público. Enquanto os adolescentes forem alvos de uma mídia que os considerem membros de um grupo de interesses homogêneos e superficiais, torna-se difícil cobrar atitudes engajadas.

Por outro lado, também cabe aos jovens leitores a missão de exigir que a imprensa preste mais atenção a eles. Só possuem argumentos para exigir algo da mídia aqueles que participam ativamente da evolução do jornalismo ao longo do tempo, por meio de críticas que ajudam a construir uma imprensa séria e consolidada.


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