Mais um capítulo da suposta batalha entre Lula e a imprensa


Juliana Baptista


Em 17 de setembro, o presidente Lula, em um comício na cidade de Campinas, afirmou que a imprensa brasileira se comporta como partido político, apóia o candidato da oposição e age de maneira tendenciosa em suas matérias da cobertura das eleições. Lula disse que a imprensa brasileira tenta vender uma neutralidade disfarçada e que não podem acusá-lo de ferir o direito de imprensa por apenas criticá-la. E que o grande problema no cenário da comunicação do país é que o poder da informação está centrado na mão de dez famílias que comandam os veículos de comunicação.

Independente do partido político, temos que concordar que a cobertura das eleições está superficial quando se trata das propostas dos candidatos a presidência.  Os meios de comunicação estão freqüentemente focando sua atenção em quebras de sigilo, dossiês, ataques entre os candidatos e se esquecem do ponto mais importante: as políticas públicas. Não que os veículos deveriam deixar de noticiar aquelas situações, mas não deveriam apenas limitar-se a esse tipo de enfoque.

Após a declaração do presidente sobre a imprensa no dia 17, a Folha de S. Paulo publicou diariamente, durante uma semana, matérias sobre as acusações de Lula sobre os veículos e a repercussão do ocorrido. Mas o veículo não deu direito de resposta ao presidente. Podemos notar que a Folha de S. Paulo se preocupou em acusar o presidente de antidemocrático e atacar a liberdade de imprensa. Nota-se o freqüente uso da fala do presidente: “nós vamos derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como partido político” ; “o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a atacar a imprensa ”; “governo Lula demonstra estar no caminho do autoritarismo ao criticar veículos de mídia e desrespeitar as instituições”.

Mas Lula rejeitaria a censura, segundo sua fala reproduzida em uma matéria: “não sou eu [que] vou censurá-los, é o telespectador, é o ouvinte, e é o leitor que vai medir aquilo que é mentira e aquilo que é verdade.” Na mesma semana, na inauguração de um trecho da ferrovia Norte-Sul, em Porto Nacional, no Tocantins, o presidente afirmou que atualmente a população brasileira tem discernimento pra reconhecer calúnias que aparecem na mídia e que os veículos de comunicação não são mais formadores de opinião pública. Em matéria de 23 de setembro, é citada a fala de Lula: “o povo de 2010 não é mais massa de manobra, como era 30 anos atrás. Não tem mais essa de que se deu na TV é verdade. O povo sabe quando é mentira. Tem, às vezes, má fé”.

Pode-se dizer que esta última afirmação é um tanto ingênua, pois sabemos que a população brasileira não está tão informada e instruída a ponto de estar totalmente isenta de influência da imprensa. É claro que houve uma evolução de algumas décadas até hoje, mas ainda está longe do ideal. Mas no ponto em que o presidente afirma que a imprensa brasileira está concentrada em poucas mãos e que está deixando a desejar na cobertura das eleições, não há como discordar.

Voltando ao exemplo do veículo Folha de S. Paulo, na seção “Eleições 2010” do site do jornal, entre as categorias de pesquisa, blog e fotos, podemos encontrar as seções “mentirômetro” e “promessômetro”. A primeira classifica algumas afirmações dos candidatos entre “não é bem assim”, “aumentou e distorceu” ou “mentira”. Já a segunda mede o “grau” de possibilidade de realização da promessa política entre “possível”, “há limitações” e “difícil de cumprir”.  Este tipo de foco acaba tirando a credibilidade da disputa eleitoral e não possui finalidade alguma além de desestimular o eleitor, pois este acaba resumindo as propostas eleitorais apenas como mentiras ou promessas (em sua maioria, difíceis de cumprir ou limitadas).

As eleições 2010 foram tratadas com muita superficialidade pelos meios de comunicação. Grande parte das disputas eleitorais são acirradas, cheias de trocas de farpas, acusações, quebras de sigilo. São situações que ocorrem freqüentemente, não são novidade para o eleitor. Por isso e por tantos outros fatores, não deveriam ser a prioridade nas manchetes dos grandes veículos. As acusações do presidente sobre a agressividade das matérias sobre as eleições têm algum fundamento. Estejam elas defendendo supostamente um candidato, são prejudiciais à democracia, porque, além de bagunçar o cenário da disputa política, faz com que os eleitores se desestimulem a conhecer o cenário político e exercer seu direito de voto.


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