Nova lista de material escolar para TV Globo: lápis, caderno e batom


Karen Terossi


Segundo matéria do Fantástico (TV Globo) veiculada em 19 de setembro de 2010, além de caderno, lápis e borracha, agora os pais têm que “encarar a verdade” e comprar também batom, gloss, rímel e blush. A reportagem chega com tom de “aviso para os pais” de meninas de 10 e 11 anos. Se um aviso é dado, é porque os filhos têm certos costumes que os pais precisam saber para se adequar. Um aviso indica algo que é assim e pronto, mas esse não é o caso.

As meninas dessa faixa etária estão se maquiando sim, e isso faz parte do processo de desenvolvimento. Quando a menina imita um comportamento ou costume da mãe ou de outra mulher, está adquirindo padrões relacionados ao seu sexo. É o que a psicologia chama de “tipificação sexual”. Não vamos discutir neste texto os significados da maquiagem para a mulher, mas certamente algo está fora de lugar nessa relação entre maquiagem, escola e crianças.

A reportagem mostra uma garota que acorda uma hora mais cedo que o necessário, para se maquiar para ir à escola. O que as mães dizem? Uma delas não acha apropriado para a idade e é só.

Aí ouvimos o seguinte: “A gente jura que presta atenção na aula, né? Tanto é, que a gente nem vai pro banheiro pra fazer aquele retoque básico”. Então já não é a escola o ambiente para isso, é a própria sala de aula! Reproduzem a ironia da menina, que ironiza nossa própria crença de que o futuro está na educação.

E o que os professores dizem? Nada! Simplesmente não tem importância falar disso na reportagem. O assunto é maquiagem e não educação. Maquiagem na escola, na sala de aula, tanto faz: o importante é entrar na moda. Jogue fora o significado dos uniformes, a importância dos livros e o objetivo principal da sociabilidade desenvolvida na escola.

Os meninos acham bonito? As meninas acham as cores fortes legais? E o que a dermatologista recomenda? Ela diz como fazer para não prejudicar a pele e, em um trechinho, contradiz todo o resto da reportagem: a maquiagem tem que ser “eventual” e não diária. Parece totalmente ignorada. E não é uma questão de dermatologia somente, é também de valores.

Educação é coisa séria e não depende de lápis de bichinho, mochila da Barbie, celular que toca mp3 ou sombra de olho cor-de-rosa. Isso é consumismo, um comportamento vazio, que agora penetra o ambiente que deveria justamente estimular a atitude reflexiva e crítica.

O que os educadores e psicólogos pensam? Esqueceram de dizer! E justo em uma reportagem “comportamental” sobre o ambiente escolar. A reportagem não pode ser um aviso aos pais. É um alerta sobre um tipo esquisito de se fazer jornalismo.


Deixe um comentário