Adriana Donini
Jéssica de Cássia Rossi
Bruno Sampaio Garrido
Ana Paula de Souza Silva
Os programas radiofônicos podem ser importante canal para divulgação científica e desempenhar papel educativo se forem produzidos de maneira que o potencial da oralidade do meio seja explorado.
A Rádio Central Brasileira de Notícias (CBN), que tem como slogan “a rádio que toca notícias”, por causa do seu caráter informativo, possui dois programas de gêneros diferentes que abordam a ciência na área da saúde. Um deles é o Saúde em Foco, apresentado pelo médico Luís Fernando Correia. Outra produção é Ciência & Saúde, produzida por jornalistas do sítio G1.
Procuramos identificar, por meio da análise do discurso francesa, como o tema influenza A (H1N1) ou gripe suína foi abordado por esses dois programas da CBN no período de abril a agosto de 2009. Na visão da análise do discurso francesa, cada sujeito produz enunciados a partir da posição ideológica que ocupa no jogo de forças sociais. Esses posicionamentos representam as Formações Ideológicas (FIs) de um determinado sujeito ou grupo social que são expressas em seus enunciados e podem ser identificadas por meio de Formações Discursivas (FDs). Elas equivalem ao que pode e deve ser dito, em oposição ao que não pode e não deve ser dito por um determinado sujeito ou grupo social. Em nosso estudo, identificamos as principais FDs existentes do discurso sobre a gripe suína da rádio CBN, que são: uma Formação Discursiva científica e outra Formação Discursiva educativa.
No Saúde em Foco, percebemos que prevaleceu a FD científica. O apresentador citou termos técnicos sem esclarecer seus significados, mas recorreu a informações estatísticas e científicas para demonstrar provas concretas da expansão da gripe A, como nesse trecho: “Os resultados indicam que o Influenza A H1N1 tenha uma taxa de reprodução básica de 1.4 a 1.6. Isso significa que, naquela comunidade, a partir de um caso, de 14 a 73 novos casos possam ter surgido”.
Uma explicação sobre a vacina foi realizada por meio de termos técnicos não seguidos de explicações como “meios de cultura” e “anticorpos”. No entanto, expressões mais simples foram elucidadas, como neste trecho: “o processo de criação de uma vacina contra um vírus envolve várias etapas. A primeira é a identificação e reprodução em laboratório de uma cepa do vírus que seja capaz de induzir a formação de anticorpos, em humanos. Essa amostra deve também ter a capacidade de se reproduzir em meios de cultura. Os mais utilizados são ovos embrionados e meios de cultura sintéticos. Agora o vírus terá que ser atenuado, ou seja, ficar um pouco mais fraco, porém sem perder as características de indução de anticorpos”.
No Ciência & Saúde, a FD científica assume as características da oralidade, e nota-se uma quantidade relativamente pequena de termos técnicos, o que pressupõe que a meta do programa é popularizar a linguagem científica, aproximando-a do grande público, como percebemos nesse trecho: “pra você provocar realmente um estrago muito grande em uma pandemia de gripe, calcula-se que seja preciso duas coisas: primeiro, ele (o vírus) tem de estar bem adaptado aos seres humanos, infectar facilmente os seres humanos . o que não é o caso da gripe aviária, que matava muito, mas não conseguia infectar as pessoas com eficiência . então esse é um lado, infectar as pessoas com eficiência. Outro lado é causar a doença de forma agressiva, levando várias pessoas à morte”.
Ao longo dos programas, notamos também algumas diferenças marcantes na forma como o assunto “gripe suína” é tratado. A principal delas foi com relação ao otimismo marcante na fala do jornalista quando trata da síndrome, pois é dito que, apesar de sua gravidade, ela não tem potencial para ser uma doença “assassina”, como foi, por exemplo, a gripe espanhola. A espontaneidade e informalidade características dessa fala corroboraram esse otimismo, passando a ideia de que a gripe suína é um mal menor do que o comumente noticiado.
Assim, constatamos que tanto no programa Saúde em Foco quanto no Ciência & Saúde a FD científica é predominante, porém com a utilização de linguagens diferentes. No primeiro, há o uso de vários termos técnicos, estatísticos e científicos para explicar a gripe suína e, no segundo, o emprego de expressões coloquiais e informais para abordar o que é a “nova gripe”.
Estas diferenças podem ocorrer devido ao fato do programa Saúde em FocoCiência & Saúde, por uma equipe de jornalistas. Em relação à FD educativa, percebe-se que ela é mais limitada em ambos os programas; só aparece mais claramente nas ultimas edições dos dois programas para orientar o usuário sobre como se prevenir da gripe A. As linguagens empregadas também são diferentes entre si.
Portanto, observamos que os programas da CBN estudados assumiram um posicionamento de maior divulgação científica em relação à gripe suína.