Lucas Liboni Gandia
Entre os dias 9 e 11 de agosto, o Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, realizou entrevistas com os três candidatos à Presidência da República com maiores chances de vitória, segundo as últimas pesquisas: Dilma Rouseff, do PT, Marina Silva, do PV, e José Serra, do PSDB. O que deveria ser apenas uma conversa com os presidenciáveis se tornou uma exposição de afetos e desafetos dos apresentadores (e, por que não, da própria emissora?) em relação aos entrevistados e seus respectivos partidos, o que abriu espaço para discussões e dúvidas ligadas à neutralidade e isenção do telejornal.
A ordem das sabatinas seguiu um sorteio realizado ao vivo pelos próprios apresentadores. Além disso, o tempo total de entrevista deveria obedecer aos 12 minutos estipulados. Tais regras foram constantemente repetidas ao longo dos programas, numa espécie de necessidade encontrada por William Bonner e Fátima Bernardes em afirmar a neutralidade do trabalho realizado pela equipe do Jornal Nacional.
A primeira entrevista, realizada com a presidenciável do PT, apresentou os maiores entraves entre a candidata e os apresentadores. Ainda nos primeiros minutos, Dilma Rouseff, que tem apresentado uma aparência cada vez mais diferente dos tempos de Casa Civil, foi questionada a respeito de sua postura dura e de eventuais maus tratos cometidos contra ministros, o que, segundo William Bonner, foi apontado pelo próprio presidente Lula. Logo depois, a petista voltou ser interrogada a respeito das alianças e dos apoios políticos “duvidosos” à sua candidatura. Alvo de vários questionamentos, Dilma se limitou a criticar o governo de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, e a vangloriar as conquistas de Lula, apontado pelos apresentadores do JN como “tutor” da ex-ministra rumo à presidência. Ao longo da entrevista, Dilma foi apresentada como uma candidata despreparada, em função da ausência de participação em eleições anteriores e da falta de experiência em um cargo político de maior importância. Tais fatores, de acordo com a condução dos apresentadores, resultariam em uma falta de “jogo de cintura” e traquejo político por parte da petista.
No segundo dia, foi a vez de Marina Silva, candidata do Partido Verde, ser entrevistada. No começo do encontro, William Bonner questionou a falta de uma aliança de apoio à sua candidatura e uma eventual fraqueza política, em caso de vitória. Depois, Marina foi sabatinada a respeito de seu posicionamento alegadamente omisso e de seu “silêncio” na época em que veio à tona o escândalo do mensalão, quando ela ainda era Ministra do Meio Ambiente do governo Lula. É importante ressaltar que, ao longo de seu discurso, a candidata apontou as causas ambientais e a educação como principais metas de seu governo. A entrevista com Marina criou a impressão de que sua candidatura é fraca e que sua eventual vitória será um governo deslocado e pouco apoiado pelos demais partidos.
A última entrevista, realizada com o tucano José Serra, também apresentou indagações polêmicas. O candidato do PSDB foi questionado pelos elogios feitos ao atual governo petista, pela aliança política com o PTB (partido envolvido com o mensalão do PT) e pelas divergências internas na escolha de seu vice (o deputado do DEM Índio da Costa). Além disso, Serra foi apontado pelos apresentadores como “conservador”, o que o candidato desmentiu. Apesar das críticas feitas, a capacidade de governar o país e as habilidades políticas do candidato tucano não foram questionadas pelos apresentadores. Tal postura permite concluir que a equipe do JN, e talvez a própria Rede Globo de Televisão, apóiam a candidatura de Serra
As sabatinas realizadas pelo Jornal Nacional foram alvos de grandes críticas do público, que enxergou na conduta dos apresentadores certa agressividade e até mesmo parcialidade, em função das diferentes formas como as entrevistas foram realizadas. A postura do casal de âncoras limitou os encontros com os presidenciáveis a uma sucessão de questionamentos duros e até mesmo hostis. Outro ponto negativo foi a ausência de espaço dado aos entrevistados para que fizessem suas defesas, já que os candidatos foram constantemente interrompidos pelos apresentadores com o argumento de que o tempo curto deveria “ser aproveitado da melhor forma possível”.