Adriana Donini
O blog da Folhinha, suplemento infantil do jornal Folha de S. Paulo, anunciou que haveria mudanças a partir da edição de 29 de maio de 2010. Entre as novidades, estão um novo autor de história em quadrinhos, uma página especial para crianças que estão aprendendo a ler, além das seções “Fenômeno”, sobre cultura e comportamento; “Figura”, espaço no qual os leitores expõem sua preferência em relação a temas como lazer e alimentação; e “Experimente!”, que ensina o passo a passo de atividades como confecção de brinquedos de papel e produção de sons.
A reportagem de destaque da edição de 29 de maio foi “Há muito espaço no espaço”, que procura elucidar o tamanho do espaço sideral e apresentar uma descrição dos planetas.
Nota-se que o jornalista, para procurar atingir o público-alvo do caderno, utilizou diversas comparações para tornar compreensível sua mensagem. “Se o sol fosse uma bola… grande como as de parque de diversão, a Terra seria bem menor que uma bola de gude”, segundo a matéria. “Ficará fácil de entender se você imaginar que o Sol é uma bola. Se fosse uma bola de futebol, a Terra seria do tamanho de um grão de pimenta. (…) Aumentando o Sol para uma bolona de 80 centímetros, a Terra ainda assim só teria 7,3 milímetros, menos da metade de uma bola de gude! E estaria a quase 86 metros de distância, perto do comprimento de um campo de futebol”.
É possível observar ainda a preocupação com a clareza quando expressões que podem não integrar o repertório dos leitores são explicadas. “Um ano-luz é a distância que a luz viaja em um ano. Dá quase 10 trilhões de quilômetros”.
Mas não há entrevistas nem pluralidade de opiniões, apenas descrições do repórter. Neste aspecto, o texto não segue as regras estabelecidas pelo Manual de Redação da Folha.
A seção “Experimente!” ensinou a fazer planetas de papel para perceber a distância entre eles. Neste caso, notamos incoerência em indicação feita pelo repórter. “Reúna os amigos para passear de bicicleta pela ciclovia da marginal Pinheiros, em São Paulo, e entender as distâncias entre os planetas do Sistema Solar”, de acordo com a matéria. Para o jornalista, os leitores da Folhinha são moradores de São Paulo e residem próximo ao local mencionado. Na realidade, sabemos que o jornal tem circulação nacional, e mesmo os moradores da capital poderiam ter dificuldade de ir até o local. O ideal seria utilizar outro exemplo, de aplicação mais geral.
Também compõe a reportagem uma breve descrição dos planetas com os respectivos diâmetros e a distância média do Sol.
Consideramos que houve preocupação na adequação da linguagem empregada, com utilização de comparações, proposição de atividades lúdicas, estímulo ao raciocínio e à imaginação dos leitores, conforme é recomendado à prática do jornalismo para crianças. Entretanto, seria adequado maior aprofundamento do tema. O repórter poderia, por exemplo, abordar estudos científicos recentes sobre o assunto e utilizar várias fontes, como especialistas no assunto, e crianças para opinar sobre o tema.
Escrever para o público infanto-juvenil não é sinônimo de superficialidade, simplificação de linguagem ou mera descrição de informações gerais sobre determinado assunto.