Campanhas na web e mídias de massa


Francisco Beltrame Trento


Um dos grandes trunfos da campanha de Barack Obama na vitória de dois anos atrás foi a inovação e a participação do então senador nas redes sociais, chegando a ter um perfil no Twitter, seguido por quase 4 milhões de pessoas.

No Brasil, aparentemente a tendência está se repetindo. Nos últimos meses temos visto que o microblog Twitter tem se tornado uma ferramenta a mais para a participação dos candidatos às eleições do fim deste ano, permitindo um contato mais direto, e até mesmo conversas virtuais com os eleitores. Os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PV) e José Serra (PSDB) já estão postando mensagens. Seus seguidores as recebem várias vezes ao dia.

Há algumas discussões sobre a definição da categoria em que se encaixaria o Twitter nos meios de comunicação da era pós-moderna. Para Lance Ulanoff, jornalista da revista PCMagazine (edição norte-americana), o Twitter não se comporta como uma rede de relacionamentos, e sim de informação. Em artigo publicado na edição de março deste ano, ele afirma: “O twitter não é uma rede social porque não é mútuo. No Facebook, você adiciona alguém porque quer manter um relacionamento com essa pessoa. No Twitter, as pessoas vão acompanhá-lo se você for interessante e tem informações relevantes para elas, mesmo que você não as siga de volta. Isso parece muito com as razões das pessoas que compram a The New Yorker, assinam um jornal ou assistem a um programa jornalístico de televisão”.

Limites

Se na grande mídia há limites para tempo de exibição e verbas para investimento em campanhas, no Twitter (e na internet em geral) isso parece não ser problema. Evidentemente, muitos vão dizer que o serviço possibilita a postagem de apenas 140 caracteres por vez, mas nada impede que o usuário escreva quantas vezes desejar, ou poste endereços que levem a blogs e fóruns, onde pode haver ainda mais espaço para discussões.

Os perfis nas redes sociais atuam em uma espécie de desconstrução da imagem inatingível dos conhecidos políticos brasileiros. Através deles, é possível descobrir que Dilma e Serra torceram para a escalação de Neymar e Ganso na seleção de Dunga, que o ex-governador de São Paulo passa as madrugadas online por causa de sua insônia e que Fernando Gabeira criticou a presença de Grafite e Josué no time brasileiro que disputará a Copa do Mundo.

É claro, a internet ainda pode servir como escoamento para a divulgação de projetos políticos e planos de governo, o que nem sempre acontece com eficácia na grande mídia. Afinal, com as restrições feitas pela lei que define o horário eleitoral gratuito, é praticamente impossível para que um partido ou coligação que tenha 30 segundos diários expor seus desejos de mudanças e projetos. No máximo, é possível divulgar o nome do candidato e seu número.

Ressalvas

Apesar da possibilidade de maior aproximação com os candidatos, é preciso fazer algumas ressalvas. A primeira é que, apesar da inclusão digital e da vasta utilização de redes sociais pelos brasileiros no último ano, o Twitter ainda é restrito a uma elite, de pouca abrangência efetiva, ainda que parte dela seja composta por formadores de opinião. Mesmo o Brasil sendo o terceiro lugar do ranking do tempo gasto pelos usuários de internet em redes sociais, como aponta pesquisa feita pelo instituto Nielsen em dezembro de 2009, o Orkut ainda reina absoluto, com 70%. O Twitter, até o fim do ano passado, não passava dos 5%. Ainda há outro afunilamento: dessa pequena porcentagem, grande parte se restringe a seguir perfis de celebridades ou amigos pessoais.

Outra observação a ser feita é que, apesar de a comunicação pela web transmitir a impressão de maior transparência e espontaneidade, não demorará muito para que serviços de media training, tão conhecidos na criação da imagem dos candidatos na TV e no rádio, decretem uma espécie de “etiqueta” para a atuação dos elegíveis no microblog, com técnicas psicológicas para atrair a simpatia e os votos dos internautas. Aliás, seríamos ingênuos demais ao pensar que isso já não está sendo aplicado nas eleições deste ano.

Também é interessante analisar a forma como os meios de comunicação tradicionais “retransmitem” as informações das páginas pessoais destes sites de relacionamento. Uma parte das notícias divulgadas não é de interesse público. Sim, como já foi dito, alguns detalhes difundidos no Twitter ajudam a construir uma imagem mais próxima entre eleitores e candidatos, mas é preciso deixar claro que a prioridade ainda é (e sempre foi) das propostas políticas e legislativas. Temo que infelizmente a grande mídia esteja aproveitando somente o primeiro tipo de comentário, prejudicando o enorme potencial informativo de interesses públicos que essas ferramentas poderiam levar à sociedade.


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