Eis que em meio aos inúmeros documentários sobre a vida selvagem nas savanas, surge um programa que realmente retrata a vida e o povo do continente ancestral. “Nova África”, exibida pela TV Brasil, é uma série de reportagens que mostra o cotidiano, a gente e a cultura africana com um novo olhar.
Essa é a proposta da equipe liderada pelo competente jornalista Luiz Carlos Azenha, que mostra semanalmente imagens e histórias contadas pelos próprios africanos, descarregadas de todo o estereótipo que o Ocidente cultiva com relação ao continente.
O resultado é surpreendentemente positivo, pois, apesar do estigma ao qual são subjugados a TV pública e o rótulo de programa educativo, “Nova África” tem apresentado suas reportagens com boa qualidade técnica, muito bem roteirizadas e editadas, além de interessantes, com total capacidade de “prender” um telespectador desavisado que esteja zappeando pelos canais de televisão. Deve-se destacar aí o mérito da TV Brasil, que, aos poucos, está mostrando a que veio e tentando provar que podemos construir um novo modelo de TV pública.
Um dos pontos mais interessantes do programa é que a cada país, a cada povoado por onde a equipe passa, uma NOVA África é revelada, bem diferente da ideia do senso comum, empurrada goela abaixo, de que o continente inteiro se resume a “negros bárbaros”, miseráveis e portadores do HIV. A riqueza e a pluralidade culturais são explosivas, fascinantes, tanto quanto toda aquela gente que carrega em si uma força de origem misteriosa e instigante.
Na semana passada, a equipe do programa desembarcou no Brasil após a segunda viagem ao continente africano para a gravação de novas reportagens. Conceição de Oliveira, historiadora e responsável pelo projeto editorial do programa,relatou em seu blog alguns pontos que fizeram parte do roteiro: “Começamos nossa viagem por Lisboa para acompanhar a diáspora caboverdiana, depois seguiu para a Ilha de Santiago que percorremos de ponta a ponta”.
Vamos aguardar a exibição dos novos episódios e torcer pela manutenção da qualidade do programa, que poderia servir como exemplo para as emissoras privadas, que não se cansam de exibir a reprodução dos leões, a ameaça de extinção dos micos-leão dourados no Brasil e os segredos para a saúde do coração. Será que alguém aí se lembrou do Globo Repórter ou de algum de seus clones? Os documentários e as grandes reportagens podem oferecer muito mais do que a TV aberta tem mostrado.