As recentes denúncias feitas pelo jornalista Roberto Cabrini em seu programa “Conexão Repórter” sobre casos de abuso cometidos contra coroinhas por padres de Arapiraca, em Alagoas, trazem à reflexão mais uma vez a importância do jornalismo investigativo e de sua função social.
A partir dos desdobramentos dessa denúncia, outras muitas foram feitas, novos casos de abusos surgiram e a repercussão chegou ao Vaticano, inclusive envolvendo religiosos próximos ao Papa Bento XVI.
Uma investigação que a princípio era local torna-se quase global. Apesar de polêmico e muitas vezes tachado de “sensacionalista”, Roberto Cabrini levantou uma antiga questão que jamais foi solucionada: quando os criminosos serão punidos pela Igreja? E ainda, até que ponto a obrigatoriedade do celibato, decisão tomada em Concílio pela Igreja Católica, deve ser obedecida por obrigação? Não seria esta decisão questionável?
O celibato, que do latim cælibatus quer dizer “não casado”, não significa necessariamente que o fiel ou o indivíduo não possa manter relações sexuais. O problema reside justamente no fato de que o celibato pressupõe uma auto-entrega, uma renúncia dos prazeres sensuais (castidade), um estado de honra em benefício da vida espiritual. Segundo os conceitos cristãos de castidade, “todos somos chamados a uma vida casta”; os casados devem ser “castos”, ou fiéis ao seu cônjuge, os solteiros devem se abster de sexo até a consumação do matrimônio e os ministros consagrados – sacerdotes e bispos – fazem o chamado “voto absoluto”.
Ou seja, se todos são chamados a uma vida íntegra, apesar da existência natural da prática do sexo, devemos reunir em nosso caráter as virtudes morais cristãs e procurar segui-las. Por exemplo, a Igreja condena ofensas que vão contra o conceito de castidade, como a luxúria, a masturbação, a fornicação (sexo antes do casamento), a homossexualidade e a pornografia. No entanto, muito contraditoriamente, o que tem se comprovado é justamente o exercício de todas essas ofensas.
O caso das imagens de um padre fazendo sexo oral com um coroinha mostrado na reportagem de Cabrini reúne quase todos os pecados citados anteriormente. A reportagem ainda mostra, de forma brilhante e sagaz, como é feita a “cobertura” do escândalo pelo advogado dos padres envolvidos, além do sofrimento conseqüente relembrado e vivido pelas vítimas.
O jornalismo investigativo não quer ser a justiça, nem tomar o seu lugar, mas é evidente que se torna crucial no processo de denúncia e punição dos acusados.
Isso também está bastante ligado ao poder da mídia e principalmente da televisão, o que, de vez em quando, é um poder benéfico. Uma imagem repercute o mundo todo e, quando menos se espera, lá estão todos falando sobre o assunto. E querendo ou não, isso chega ao ouvido das autoridades, que começam a se incomodar e a se remexer na cadeira. O programa “Conexão Repórter”, exibido pelo SBT tem representado, é claro, um aumento de audiência, mas por outro lado não se esqueceu da essência do jornalismo; a apuração da informação em busca do bem coletivo.