A novela chamada Belo Monte


Elaine Trevisan


A história começa quando um governo surge como uma esperança para muitas pessoas. Lança um programa para aceleração do crescimento, o chamam de PAC. Prevê um projeto de uma usina hidrelétrica no rio Xingu que poderá ser considerada a segunda maior do país. O nome dela: Belo Monte.

Para o governo, uma grande obra, e como disse o próprio presidente: “Isso é importante ficar claro, em alto e bom som: vamos fazer a Belo Monte”. Para empresários do ramo, um grande lucro. Para os índios, que não se consideram ouvidos, uma injustiça. Para ribeirinhos, que serão afetados diretamente, um desrespeito. Para ambientalistas, uma obra sem conscientização, que não justifica seus lucros e nem sua realização frente aos danos ambientais atuais e futuros. Para o país, uma obra polêmica. Para o mundo, mais uma derrota em tempos em que se levanta a bandeira do ambientalismo.

Uma obra que tem o consentimento do Ibama, que provavelmente deve ter calculado a vazão do rio Xingu tanto em épocas de cheia, como na de estiagem, a quantidade de detritos (terra e pedra) que devem ser retirados do local para construção da usina, o posicionamento isolado que a obra vai proporcionar as aldeias indígenas, a capacidade de cidades como Altamira para receber os trabalhadores da Belo Monte, o desmatamento que todos os fatores acima podem causar, e mais outros detalhes, começa a ser desenvolvida. Lança-se o leilão, duas grandes empresas abrem mão da concorrência, alegando não ter condições econômico-financeiras para participar. A obra que tem previsão de gastos de R$ 19 bilhões pode chegar a custar 30 bilhões segundo especulações. Aos trancos e barrancos, com manifestações contrárias, a Belo Monte foi seguindo seu curso.

Quando se pensava que tudo estava perdido, o Ministério Público se faz presente e representa a população local e organizações contra a obra. Adia um leilão, adia o outro, paralisa um terceiro e no fim acaba sendo derrotado em tudo e é anunciado o consórcio vencedor do leilão da Belo Monte. Consorcio Norte Energia, parabéns! Composto com participação da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), subsidiária da Eletrobras, da Construtora Queiroz Galvão, da Galvão Engenharia e de outras seis empresas.

Se a novela Belo Monte acabou ou não, isso só teremos certeza com as exibições das próximas manchetes, mas com eleições já anunciadas no roteiro, é provável que essa trama ainda seja prolongada. Mas a esperança é que ela siga o roteiro do horário nobre e no seu último capítulo apresente um final feliz para os brasileiros, que devem escrever, como autores, o melhor final. E que esse final feliz não seja dúbio, não acabe com uma trilha de outro “Fulano que faz! Fulano que faz! É fulano que fez!”. Esse enredo, que já mobilizou até o diretor do filme de maior bilheteria de todos os tempos, com toda certeza merece atores comprometidos para representarem a cena final. E seria bom que esses atores não obrigassem aos jovens talentos a maquiarem seus rostos e irem para os palcos roubar a cena de uma historia que deveria abordar o tema da sustentabilidade e não da degradação ambiental. Porque não importa em que lados dos bastidores ou coxia estamos quando a luta é por um bem maior.


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