Sandra Irene Momm Schult
Sandra Irene Momm Schult é representante da Universidade Federal do ABC no Comitê de Bacia Hidrográfica do Alto Tietê (CBH-AT). Em relação à cultura da água, ela diz que no Brasil há poucos espaços públicos de livre acesso a água, já que a maioria dos cursos d’água estão em propriedades privadas, e na grande São Paulo os rios estão poluídos, o que acaba inibindo esse contato.
Sandra viveu no Vale do Itajaí, região com incidências de enchentes. Ela relata as dificuldades de enfrentá-las, já que há um colapso de sistemas de infraestrutura. “São semanas de alagamento, minha família ficou ilhada durante quatro dias no segundo andar de uma casa. A água vem com velocidade, arrasta as coisas, vaza combustível, enfim, é uma experiência de muito risco”.
Sandra afirma que, ao observar a lógica estrutural de captação, tratamento e distribuição da água, há uma grande parcela da população que não se encaixa nesse perfil que atende uma performance econômica. “Teria que haver políticas de subsídio ou estatais que garantisse o acesso ao recurso para setores que não têm condições de estar nesse mercado da água”.
Além disso, Sandra comenta que, quando a água se torna mercadoria, deve haver um controle social intenso, para o qual os comitês de bacia oferecem contribuição importante, e se recorda de uma campanha utilizada nos comitês de bacia de Santa Catarina para exemplificar a ideia da relevância da cobrança da água: uma imagem de várias mãos com água corrente passando por elas, sobre o texto “quem são os donos da água?”. A cobrança viabiliza a sustentabilidade e proteção do próprio recurso, segundo ela. “Mas, no momento que se torna mercadoria, é outra lógica, é preciso haver um equilíbrio em relação a esse direito”.
“Eu acho que nós temos um bom arcabouço normativo e institucional no Brasil, e o problema não está na política e no sistema, mas sim na implementação”. Sandra avalia que a gestão dos comitês de bacia tem dificuldades de assegurar a capilaridade, ou seja, de ter representações regionais de vários setores. Além disso, ela aponta a necessidade de capacitar os atores para se mobilizarem, fazer oficinas com lideranças de associações de moradores e sindicatos para explicar como funciona a gestão da água.
Deveria haver um esforço de não só mobilizar e capacitar os atores, mas também repensar as formas de abertura do comitê. “Talvez em reuniões descentralizadas com pautas não tão técnicas, para que o comitê não seja só uma engrenagem dentro de um sistema”, reflete.
Bruna Tastelli