Luciomar Santos
Para Luciomar Santos, do Conselho Diretor da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), cabe aos comitês ir além e desenvolver melhor algo mais atuante no papel de fiscalização das águas, principalmente após a crise hídrica de 2014 a 2016 em São Paulo.
A governança hídrica é a forma como a sociedade soluciona e toma medidas referentes à água, e mostra que a ideia do Estado ser o único responsável pela gestão dos recursos hídricos não está correta. Com essa separação feita a partir da Lei das Águas (lei estadual 9.433/1997), as decisões referentes aos recursos hídricos dentro da bacia são tomadas pelos comitês, instituições deliberativas que têm como objetivo essa gestão.
A sociedade possui o direito ao uso da água, entretanto não percebe a cobrança em relação ao seu uso, assim como a importância do comitê no caminho da água até as residências; esses fatores só começaram a ser percebidos quando a crise hídrica se instaurou. “Existe uma preocupação muito forte em preservar os recursos, mas ainda não é uma cultura”, analisa Santos.
Apesar de não serem habituais, dispositivos que a população criou para auxiliar no problema hídrico, como a captação da água de chuvas e o reaproveitamento em máquinas de lavar, deveriam se tornar usuais após o momento de necessidade, avalia. Entretanto, após a crise, o consumo hídrico voltou a se elevar, indicando que economia e reutilização da água são hábitos que não foram enraizados em nossa sociedade.
Como adicionar esse hábito? A comunicação é uma ferramenta importante para a realização dessa ideia, não só entre o Governo Federal, Estadual, Municipal, mas também entre próprias organizações, que precisam se preocupar mais com a economia de água. Para Santos, o governo poderia, por exemplo, implantar um programa de educação ambiental em escolas, sobre racionamento e conscientização da água, não só em momentos de crise. “A nível de governo, eu percebo, agora, uma preocupação maior em buscar a garantia desses recursos. Na hora em que a escassez começa a apertar mais nossa situação, aí a gente começa a perceber que precisa atuar de uma maneira mais forte”.
A informação não deveria estar apenas online; segundo Luciomar, a Sabesp também fez uso de comunicadores em pontos aglomerados em São Paulo, como metrôs, para discutir o uso racional e a economia em meio a crise hídrica. ONGs como a Mãe Natureza, de Barra Bonita (SP), cuidam do Rio Tietê e informam crianças em escolas sobre a preservação da água. Segundo um relatório da entidade em setembro de 2018, a mancha de poluição do rio já havia reduzido oito quilômetros. O processo deve ser iniciado desde cedo: a criança é instruída ao racionamento e leva essa preocupação para casa, multiplicando a ideia guardada para o resto da vida.
Luciomar acredita que a cultura de consumo hídrico não se baseia em uma preocupação de que ela pode chegar ao fim, portanto o abastecimento humano e do agronegócio não se atêm em preservar esses recursos. Apesar do Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê (CBH-AT) ter uma forte preocupação com a escassez novamente, Santos sustenta: “cabe a gente olhar um pouco mais para essas áreas, ter um tipo de monitoramento para ver qualquer possibilidade e atuar antes que vire uma bola de neve”. Ele também considera que o comitê deva atuar de maneira mais forte e mais incisiva, visto que a conscientização se dá com um longo e prévio trabalho, que não se modifica em apenas um único anúncio.
“Se tivermos uma próxima Guerra Mundial, será em função do recurso hídrico”, arrisca. Apesar de ser uma fórmula cíclica, a crise pode continuar se os usuários dessa água não seguirem um uso adequado. É um trabalho conjunto entre população e comitês, e a força da participação ativa é importante para o crescimento evolutivo de uma ideia que favorece a vivência de todos.
João Pedro Voltarelli