Hélio Suleiman
Hélio Suleiman é Diretor Presidente da Fundação Agência da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê (FABHAT), braço executivo do CBH-AT, e tem experiência na área de Engenharia Sanitária, com ênfase em Recursos Hídricos. Para ele, o cuidado com a água não vem só com a escassez, mas também com seu tratamento. “Quais os processos necessários para o tratamento desse recurso, que com frequência é poluído muitas vezes pela população local?”, questiona Suleiman. Foi-se o tempo em que os padrões mínimos de exigência de qualidade se referiam apenas à existência de água insípida, incolor e inodora para os consumidores, já que a própria presença e abastecimento ininterrupto não são mais dados como certos na atualidade.
“Não é informado à população como a água chega, como ela é tratada, quais são os cuidados, isso não é trazido para debate”, lamenta Suleiman. Segundo ele, o sistema de gestão da água nem sempre se faz mais do que previsto nos planos de trabalho. Isso porque não existem ou não são seguidos os indicadores de acompanhamento dentro dos comitês para verificar a eficácia do trabalho interno. Sem esse retorno de dentro do comitê, como cobrar da sociedade a participação? Apesar de temas e problemas internos não serem colocados para debate, deveria haver mais espaço para aprofundamento de soluções.
Apesar de existirem oportunidades de aperfeiçoamento do comitê no retorno da informação, a lição sobre a crise hídrica instaurada em 2015 foi repassada, com investimentos do governo para tentar minimizar os danos. “A gente só se preocupa com a água, seja em quantidade ou qualidade, apenas no meio da crise e do caos”, considera. Isso, para Suleiman, vale também para a educação ambiental do país: não a ensinada em escolas, mas a educação informal do cotidiano, de reestruturação nos conhecimentos sobre uso da água.
Suleiman questiona como o comitê pode trazer temas complexos e fazer com que eles se tornem assunto entre as pessoas, visto que a população discute e se mobiliza para assuntos pertinentes, como a tarifa de ônibus, mas não coloca como pauta uma crise hídrica e o que pode ser feito na diminuição de riscos para evitar outras crises. “Como abordar um produtor rural sobre o assunto? Para cada uso dos diversos setores deve haver uma comunicação adequada para melhor compreensão mútua”.
A comunicação do comitê deveria ser unificada e se expandir a públicos de diferentes escolaridades. Apesar de existir uma ligação entre as entidades que trabalham para manter os recursos hídricos tratados e em benefício da sociedade, faltam funcionalidade e integração entre elas, principalmente no repasse de informações à população, que, segundo Suleiman, não é abordado no setor: “o acesso, tanto à água como ao esgoto, não é uma agenda de governo, infelizmente”.
Falta discussão ou falta informação entre a sociedade? A eficácia do comitê está muito ligada a sua comunicação e linguagem acessível para todos, entretanto ele ainda deve aprofundar mecanismos ou indicadores de reconhecimento de suas ações, para que ele retribua para a sociedade, fazendo assim com que todos consigam ver a importância de seu papel. “Como eu vou tornar um projeto interessante para alguém que acorda às quatro da manhã para pegar metrô, e, em vez de olhar uma fofoca no Facebook, interaja com o comitê?”, provoca Suleiman.
João Pedro Voltarelli